PROGRAMA
NOTAS SOBRE A OBRA Ao longo da história da Igreja, é vasta e variada a produção artística destinada ao culto sagrado, designada por arte sacra. A música sempre foi uma importante expressão, para muitos a linguagem universal da beleza que se dirige ao mais íntimo dos corações humanos. A Igreja nunca considerou como próprio nenhum estilo artístico, abarcando uma diversidade de estilos ao longo das épocas, resultando num tesouro artístico de valor único para a humanidade. Apresenta-se em concerto um recorrido por música sacra dos séculos XVI ao século XX.
Giovanni Pierluigi da Palestrina (1525-1594), compositor italiano da renascença, foi o compositor mais famoso do século XVI. Teve uma grande influência no desenvolvimento da música sacra. Não houve compositor anterior a Bach tão prestigiado como Palestrina, denominado como "O Príncipe da Música". As suas obras foram classificadas como a "perfeição absoluta" do estilo eclesiástico. Captou a essência do aspecto sóbrio e conservador da Contra-Reforma numa polifonia de extrema pureza, apartada de qualquer sugerência profana. Apresenta-se deste compositor um ricercar, um tipo de composição instrumental da época. O termo significa pesquisar, e tipicamente explora as permutações de um dado motivo na forma imitativa de variações. No barroco evoluiu para a forma de fuga. Girolamo Frescobaldi (1583-1643), outro importante compositor e cravista italiano, foi igualmente mestre nesta forma da renascença.
Manuel Cardoso (1566-1650), foi um compositor e organista orignário de Fronteira do Alentejo. Participou no Colégio dos Moços do Coro, associado à catedral de Évora. Em 1588 ingressou na ordem carmelita. (Vila Viçosa, 19 de Março de 1604 — 6 de Novembrode 1656) Curiosamente, no início dos anos 1620, residiu no Paço Ducal de Vila Viçosa, onde se tornou amigo do Duque de Barcelos (mais tarde rei D. João IV). Terminou a sua carreira como organista e compositor residente no Convento do Carmo em Lisboa. Apresenta-se uma obra, Lectio, sobre um motete de Palestrina.
O rei João IV de Portugal (1604-1656), nascido em Vila Viçosa. foi aclamado rei de Portugal após a restauração da Independência em 1640, tornando-se fundador da dinastia de Bragança. Para além do monarca, impõe-se considerar nele o artista e o letrado, o amador de música que, no seu tempo, esteve à altura dos maiores de Portugal. De facto, junto com Manuel Cardoso e Duarte Lobo, são considerados os maiores representantes da "era dourada" do polifonia portuguesa.
A referência por excelência da música sacra do período barroco é Johann Sebastian Bach (1675-1750). Profundamente devodo, a música sacra era para Bach a expressão da compreensão de uma ordem universal geométrica, divina e, portanto, musical. Bach foi mestre duma das formas mais em voga na época, o coral, um cântico litúrgico para ser cantado em coro a quatro vozes pelos fiéis dos cultos protestantes, caracterizados por uma grande riqueza e pureza de linguagem musical harmónica.
Deste período apresenta-se uma Sinfonia de António Pedro Avondano (1714-1782), um violinista e compositor português. Avondano foi o primeiro-rabeca da capela real de D. João V.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), o grande representante do classicismo europeu, exprimiu várias vezes a vontade profunda em “experimentar a mais elevada forma de música litúrgica”, a missa de Requiem. Nesta forma de celebração litúrgica, em memória de uma alma defunta, roga-se pelo seu “repouso eterno” (requiem aeternam) e que a “luz perpétua a ilumine” (lux perpetua luceat eis). Apesar de não ter sido acabada pela mão Mozart, é considerada uma das suas obras mais poderosas e iconográficas. Apresenta-se desta obra o Requiem e Kyrie, numa versão para quarteto de cordas de 1810, de Peter Liechtenthal.
Apresentam-se obras dos portugueses, Azevedo de Oliveira (1936-) e Manuel Faria (1916-1983) que, já nos nossos dias, estudaram no Pontifício Instituto de Música Sacra de Roma e estiveram implicados na reforma da música litúrgica em Portugal, na sequência do Concílio Vaticano II.
Lúcio Studer |