Em colaboração com Raquel Alão (soprano), António Esteireiro (órgão) e José Bruto da Costa (direcção), o Quarteto Arabesco apresenta-se num programa em torno das paixões da alma. PROGRAMA
SINOPSE A associação da Música à emoção, ou paixões de alma é uma constante ao longo da cultura ocidental. Platão (c.427-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.) falavam das qualidades e efeitos morais exercidos pela música sobre a vontade, o carácter e a conduta dos seres humanos. No Barroco, René Descartes (1596-1650) e o seu tratado, escrito em 1649, Les passions de l'Ame [As paixões da Alma], seguindo o pensamento cognitivo dos gregos, afirmava que, apesar da experiência e dos sentidos serem a fonte das ideias de objectos sensíveis, de nada serviriam não fora a capacidade da mente em as perceber e as transformar em pensamentos. É nesta linha de ideias que a música surge associada a um núcleo central e motivador: a ideia do pathos, um afecto extremo que determinava e unificava o estilo de uma obra, tensões resolvidas, incitando à piedade e ao terror, num efeito catártico sobre o Homem. Não se conhecendo a data de composição, o motete Nulla in mundo pax sincera é uma das obras mais conhecidas de Vivaldi. Sendo um exemplo típico do motete barroco italiano, está divido em quatro andamentos, ária-recitativo-ária e um Aleluia de pendor conclusivo. A serenidade tensa da música procura reproduzir o sentimento do texto, uma alma que procura a verdadeira paz de espírito mas, não a encontrando nas ilusões do mundo terreno, se precipita para o verdadeiro amor, Jesus. Escrito em 1739, e estreado no King’s Theatre a 4 de Abril do mesmo ano, o Concerto para órgão “The Cukoo and the Nightingale” deve o seu nome à alusão musical a um rouxinol, no 2º andamento. O motete Maria quaerit Christum Filium é a adaptação de uma cantata profana Arianna a Naxos, escrita entre 1789 e 1790. Numa carta datada de 12 de Abril de 1790 para John Bland, seu editor inglês, Haydn refere que, tendo terminado uma cantata para soprano e orquestra de cordas tencionava aumentar a instrumentação e, nessa altura, enviar a obra para publicação. Por falta de tempo, inspiração ou, simplesmente, falta de interesse, tal nunca aconteceu. Não sendo conhecido o motivo desta adaptação, é de supor-se que no seguimento de uma encomenda de prazo muito curto, Haydn tenha optado por utilizar música pré-existente, prática comum na época. José Bruto da Costa |